
Etnicidade e Migrações nos Media
Grupo Jornais
1.Introdução
Cada cultura deverá ter semelhantes oportunidades na promoção do bem-estar social e perspectivas de futuro. O que nos parece menos aceitável é que numa época deslumbrada pelas tecnologias e tudo o que advém do seu progresso, ainda se possa discriminar e rotular outras culturas em função da sua religião, género ou etnia.
Os meios e as formas que usamos para nos comunicar, assim como as tecnologias empregues para esse fim, são determinantes no tipo de sociedade que temos e a forma como nos posicionamos diante dos factos. Como afirma Ilharco "em todos os tempos, a forma como comunicamos é a forma como agimos. Hoje, agimos globalmente porque comunicamos globalmente (Ilharco, 2008, p.155).
Segundo o estudo realizado pelo Observatório da Imigração, intitulado "Media, Imigração e Minorias Étnicas II", aos olhos da comunicação social as questões referentes à imigração passaram a ter uma atenção mais específica, tendo em conta alguns aspectos relativos à origem das comunidades imigrantes, assim como as questões sociais e culturais próprias dessas minorias. O estudo refere igualmente que a comunicação social, sobretudo na Imprensa, passa a dispor de jornalistas especializados nesta temática, beneficiando de um trabalho mais específico e ampliando o capital de conhecimento. É importante referir que os Media são empresas que ambicionam lucros e dispensam prejuízos e como tal estão limitadas aos seus accionistas e proprietários. Alguns autores (Molotch, Lester e Hall), citados no referido estudo, defendem que os Media para produzirem as notícias recorrem a fontes institucionais em detrimento de outras fontes formadas por cidadãos. Consequentemente, a tendência é reproduzir uma opinião predominante acerca das minorias étnicas facilitando a formação de estereótipos.
O aumento do fluxo migratório na Europa prende-se com factores de várias ordens: social, económica e demográfica. Neste âmbito os Media tanto podem ser identificados como promotores na construção de uma Europa multicultural quanto uma ferramenta responsável pela discriminação.
Sabendo que na actual sociedade os meios de comunicação social são um veículo essencial à informação e formação de opiniões, e que a imigração é um tema recorrente na comunicação social, o presente relatório pretende analisar informação sobre imigrantes e outras minorias étnicas através das notícias recolhidas na imprensa nacional, e assim procurarmos conhecer a influência dos média nas atitudes de abertura ou de enclausuramento / rejeição da opinião pública, relativamente à problemática da imigração e, que consequentemente, induz a dinâmicas diferenciadas de acolhimento e integração de imigrantes.
2. Breve Estado da Arte - Imprensa em Portugal
O primeiro jornal português a ser publicado periodicamente foi, "A Gazeta de Lisboa" em 1641. Contudo, a realização e concretização da imprensa portuguesa deu-se no século XIX. Os jornais como o Diário de Notícias, Jornal de Notícias e o comércio do Porto, surgiram ainda em contexto monárquico. Após o golpe de estado militar que finalizou a primeira república, restabelecendo a censura, a imprensa recuperou a sua liberdade após a revolução de 25 de Abril de 1974. A partir da década de oitenta, após as contradições das tendências ideológico-políticas e a massificação dos media, verificou-se uma revolução no tipo de política aplicada à imprensa nacional. Com a privatização da imprensa, os jornais especializados expandiram-se, surgindo também o estilo popular/sensacionalista. Alguns estudos revelam que os jornais de orientação popular/sensacionalista informativo e as revistas cor-de-rosa são as publicações mais lidas pelos portugueses. Sendo assim, constata-se que uma parte do público português, pertencente à classe média está virada para o sensacionalismo e a outra parte que pertence às classes altas e baixas prefere os jornais de informação (A imprensa em Portugal, 2008)1.
3. Estudo empírico
3.1 Metodologia e procedimentos de recolha de dados
Foi elaborada uma matriz em excell composta por 10 variáveis (como se pode observar em anexo). Para a concretização da matriz de registo de notícias sobre "Etnicidade e Migrações nos Media", foram recolhidas notícias publicadas pela imprensa nacional diária e semanal, tais como: o Expresso e o i (semanários), Correio da Manhã, Diário de Notícias, Jornal de Notícias e o Público (jornais diários). Foram recolhidas 57 notícias (suporte papel e digital)2 , no período de 15 de Agosto a 21 de Dezembro de 2010.
3.2. Análise e discussão de dados
O impacto provocado pelo título dos artigos recolhidos, levam o cidadão a ter uma imagem negativa da população imigrante, a notícia adopta uma postura sensacionalista, como salienta Cádima (coord., 2003) "o discurso sensacionalista, a linguagem do espectáculo do real, a actualidade trágica e a catástrofe (...) vão preenchendo o campo narrativo dos média, deixando pouco espaço ao rigor, à contextualização e, enfim, ao humano" (p. 5).Desta forma, este tipo de noticias, leva a que surjam estereótipos e preconceitos face aos imigrantes, como afirma Cádima (Coord., 2003) "as representações e as imagens que os portugueses têm acerca da imigração e dos imigrantes da sociedade portuguesa" (p.25). Não obstante, os estereótipos e preconceitos
nem sempre correspondem à verdade, prejudicando a integração dos imigrantes. Como iremos de seguida constatar através da análise da matriz de registo de notícias, que anexamos a este relatório.
Neste sentido, e baseados no universo de 57 notícias, no que toca ao género jornalístico, 25 são referentes a reportagens, 24 são pequenas notícias, 5 são entrevistas e 3 relatam opiniões.
Em relação ao grupo étnico podemos observar nas notícias que na sua maioria referem-se aos imigrantes, sem especificar nenhum grupo étnico, as restantes notícias representam várias etnias
E por fim, a análise do campo semântico onde as notícias foram agrupadas em quatro campos de análise, nomeadamente: criminalidade (prostituição, máfia, violência, racismo), Estudos (estatísticas, desemprego, relatórios etc.) Culturalidade (discriminação, cultura, educação, vivências) e Políticas (que regulamentam e fiscalizam, quer a exclusão, quer a integração/ assimilação)
4. Considerações finais
A análise geral dos conteúdos de todas as notícias observadas é indicadora de uma tendência para a sobrevalorização dos aspectos ligados ao crime e numa sub-análise das notícias, sobretudo, as publicadas no diário "Correio da Manhã" poder-se-á usar o indicador: pertinência, através do qual podemos discutir a função e relevância da matéria publicada.
O dever da imprensa é informar e dar oportunidade de expressão à totalidade dos membros da sociedade, tendo uma influência decisiva na construção da opinião pública e das atitudes, que são também elementos de pressão sobre as decisões políticas. A finalidade de todo este processo em si é simples – é o alcance de boas práticas através do rigor, isenção, independência da redacção.
Na matriz construída pelo Grupo de trabalho da disciplina de C. I. existe um conjunto de informação que constitui um campo de estímulo ao reforço cultural na procura do reconhecimento da diferença e da diversidade. E por último, existem um conjunto de notícias que imperam por estruturas pregnantes, ambíguas e incompletas. A junção de factos com omissões e silêncios, um exemplo, é a notícia do DN do dia 31 Outubro2010, onde há um "esquecimento" dos objectivos do programa " Português para todos" (PPT). Assim, surge uma notícia que pode, ou não, retratar o processo de integração (ou de assimilação) dos imigrantes em Portugal.
Cabe a cada leitor seleccionar a publicação deverá consultar para melhor entendimento da realidade e construção de uma sociedade respeitadora dos direitos humanos.
5. Referências Bibliográficas
Cádima, F. (coord.) (2003), Representações (imagens) dos imigrantes e das minorias étnicas na imprensa, Lisboa: Observatório da Comunicação.
Cunha, I. & Santos, C. (2006), Media, Imigração e Minorias Étnicas II, Lisboa: Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME).
Ilharco, F. (2008), "A interculturalidade e as novas tecnologias". In Desafios à Identidade, 4, Lisboa: Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME), pp. 142-183.
Ramonet, Ignacio. A Tirania da Comunicação (1999). Porto: Campo das Letras.
Os meios e as formas que usamos para nos comunicar, assim como as tecnologias empregues para esse fim, são determinantes no tipo de sociedade que temos e a forma como nos posicionamos diante dos factos. Como afirma Ilharco "em todos os tempos, a forma como comunicamos é a forma como agimos. Hoje, agimos globalmente porque comunicamos globalmente (Ilharco, 2008, p.155).
Segundo o estudo realizado pelo Observatório da Imigração, intitulado "Media, Imigração e Minorias Étnicas II", aos olhos da comunicação social as questões referentes à imigração passaram a ter uma atenção mais específica, tendo em conta alguns aspectos relativos à origem das comunidades imigrantes, assim como as questões sociais e culturais próprias dessas minorias. O estudo refere igualmente que a comunicação social, sobretudo na Imprensa, passa a dispor de jornalistas especializados nesta temática, beneficiando de um trabalho mais específico e ampliando o capital de conhecimento. É importante referir que os Media são empresas que ambicionam lucros e dispensam prejuízos e como tal estão limitadas aos seus accionistas e proprietários. Alguns autores (Molotch, Lester e Hall), citados no referido estudo, defendem que os Media para produzirem as notícias recorrem a fontes institucionais em detrimento de outras fontes formadas por cidadãos. Consequentemente, a tendência é reproduzir uma opinião predominante acerca das minorias étnicas facilitando a formação de estereótipos.
O aumento do fluxo migratório na Europa prende-se com factores de várias ordens: social, económica e demográfica. Neste âmbito os Media tanto podem ser identificados como promotores na construção de uma Europa multicultural quanto uma ferramenta responsável pela discriminação.
Sabendo que na actual sociedade os meios de comunicação social são um veículo essencial à informação e formação de opiniões, e que a imigração é um tema recorrente na comunicação social, o presente relatório pretende analisar informação sobre imigrantes e outras minorias étnicas através das notícias recolhidas na imprensa nacional, e assim procurarmos conhecer a influência dos média nas atitudes de abertura ou de enclausuramento / rejeição da opinião pública, relativamente à problemática da imigração e, que consequentemente, induz a dinâmicas diferenciadas de acolhimento e integração de imigrantes.
2. Breve Estado da Arte - Imprensa em Portugal
O primeiro jornal português a ser publicado periodicamente foi, "A Gazeta de Lisboa" em 1641. Contudo, a realização e concretização da imprensa portuguesa deu-se no século XIX. Os jornais como o Diário de Notícias, Jornal de Notícias e o comércio do Porto, surgiram ainda em contexto monárquico. Após o golpe de estado militar que finalizou a primeira república, restabelecendo a censura, a imprensa recuperou a sua liberdade após a revolução de 25 de Abril de 1974. A partir da década de oitenta, após as contradições das tendências ideológico-políticas e a massificação dos media, verificou-se uma revolução no tipo de política aplicada à imprensa nacional. Com a privatização da imprensa, os jornais especializados expandiram-se, surgindo também o estilo popular/sensacionalista. Alguns estudos revelam que os jornais de orientação popular/sensacionalista informativo e as revistas cor-de-rosa são as publicações mais lidas pelos portugueses. Sendo assim, constata-se que uma parte do público português, pertencente à classe média está virada para o sensacionalismo e a outra parte que pertence às classes altas e baixas prefere os jornais de informação (A imprensa em Portugal, 2008)1.
3. Estudo empírico
3.1 Metodologia e procedimentos de recolha de dados
Foi elaborada uma matriz em excell composta por 10 variáveis (como se pode observar em anexo). Para a concretização da matriz de registo de notícias sobre "Etnicidade e Migrações nos Media", foram recolhidas notícias publicadas pela imprensa nacional diária e semanal, tais como: o Expresso e o i (semanários), Correio da Manhã, Diário de Notícias, Jornal de Notícias e o Público (jornais diários). Foram recolhidas 57 notícias (suporte papel e digital)2 , no período de 15 de Agosto a 21 de Dezembro de 2010.
3.2. Análise e discussão de dados
O impacto provocado pelo título dos artigos recolhidos, levam o cidadão a ter uma imagem negativa da população imigrante, a notícia adopta uma postura sensacionalista, como salienta Cádima (coord., 2003) "o discurso sensacionalista, a linguagem do espectáculo do real, a actualidade trágica e a catástrofe (...) vão preenchendo o campo narrativo dos média, deixando pouco espaço ao rigor, à contextualização e, enfim, ao humano" (p. 5).Desta forma, este tipo de noticias, leva a que surjam estereótipos e preconceitos face aos imigrantes, como afirma Cádima (Coord., 2003) "as representações e as imagens que os portugueses têm acerca da imigração e dos imigrantes da sociedade portuguesa" (p.25). Não obstante, os estereótipos e preconceitos
nem sempre correspondem à verdade, prejudicando a integração dos imigrantes. Como iremos de seguida constatar através da análise da matriz de registo de notícias, que anexamos a este relatório.
Neste sentido, e baseados no universo de 57 notícias, no que toca ao género jornalístico, 25 são referentes a reportagens, 24 são pequenas notícias, 5 são entrevistas e 3 relatam opiniões.
Em relação ao grupo étnico podemos observar nas notícias que na sua maioria referem-se aos imigrantes, sem especificar nenhum grupo étnico, as restantes notícias representam várias etnias
E por fim, a análise do campo semântico onde as notícias foram agrupadas em quatro campos de análise, nomeadamente: criminalidade (prostituição, máfia, violência, racismo), Estudos (estatísticas, desemprego, relatórios etc.) Culturalidade (discriminação, cultura, educação, vivências) e Políticas (que regulamentam e fiscalizam, quer a exclusão, quer a integração/ assimilação)
4. Considerações finais
A análise geral dos conteúdos de todas as notícias observadas é indicadora de uma tendência para a sobrevalorização dos aspectos ligados ao crime e numa sub-análise das notícias, sobretudo, as publicadas no diário "Correio da Manhã" poder-se-á usar o indicador: pertinência, através do qual podemos discutir a função e relevância da matéria publicada.
O dever da imprensa é informar e dar oportunidade de expressão à totalidade dos membros da sociedade, tendo uma influência decisiva na construção da opinião pública e das atitudes, que são também elementos de pressão sobre as decisões políticas. A finalidade de todo este processo em si é simples – é o alcance de boas práticas através do rigor, isenção, independência da redacção.
Na matriz construída pelo Grupo de trabalho da disciplina de C. I. existe um conjunto de informação que constitui um campo de estímulo ao reforço cultural na procura do reconhecimento da diferença e da diversidade. E por último, existem um conjunto de notícias que imperam por estruturas pregnantes, ambíguas e incompletas. A junção de factos com omissões e silêncios, um exemplo, é a notícia do DN do dia 31 Outubro2010, onde há um "esquecimento" dos objectivos do programa " Português para todos" (PPT). Assim, surge uma notícia que pode, ou não, retratar o processo de integração (ou de assimilação) dos imigrantes em Portugal.
Cabe a cada leitor seleccionar a publicação deverá consultar para melhor entendimento da realidade e construção de uma sociedade respeitadora dos direitos humanos.
5. Referências Bibliográficas
Cádima, F. (coord.) (2003), Representações (imagens) dos imigrantes e das minorias étnicas na imprensa, Lisboa: Observatório da Comunicação.
Cunha, I. & Santos, C. (2006), Media, Imigração e Minorias Étnicas II, Lisboa: Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME).
Ilharco, F. (2008), "A interculturalidade e as novas tecnologias". In Desafios à Identidade, 4, Lisboa: Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME), pp. 142-183.
Ramonet, Ignacio. A Tirania da Comunicação (1999). Porto: Campo das Letras.
Webgrafia
A imprensa em Portugal (04/05/2008), acedido em 13 de Janeiro de 20011, in http://imediajim.wordpress.com/2008/05/04/a-imprensa-em-portugal/ Fidalgo Joaquim (2000) - Novos desafios para a imprensa escrita e para o jornalismo. Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade. http://www.cecs.uminho.pt/
http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/7637/3/Fidalgo%20J%20%282000%29_Cronologias%20media_95-99.pdf
Imprensa escrita28/03/2010, acedido em 12 de Janeiro de 2001, in
http://portugalcontemporaneo.blogspot.com/2010/03/imprensa-escrita.html
Exemplos concretos de notícias:
Neste ponto, irei incluir exemplos concreto de como as noticias sobre as comunidades estrangeiras são transmitidas pelos meios de comunicação social. Realizei pesquisas online, especialmente no You Tube procurando assim ilustrar de uma maneira geral, a forma com este assunto é apresentado ao público. Fazendo ao mesmo tempo uma reflexão critica sobre neutralidade ou a falta dela no discurso jornalistico.
Neste conjunto de peças jornalisticas podemos constatar que as comunidades culturais e etnicas são associadas à criminalidade, prostituição e violência, na medida em que revelam caracteristicas das pessoas envolvidas, tais como, imigrante, ilegal, brasileiro/a e ucraniano/a. Esta forma de comunicar as noticias, pode criar na sociedade em geral uma percepção errónea sobre os reais motivos que estão por detrás destes fenómenos, por norma relacionados com situações de pobreza e de exclusão social e que afectam todos/as e não só as comunidades culturais.
Posto isto, é importante reflectir criticamente sobre a forma de comunicar as notícias, para que elas não produzam informações erróneas, nem discriminatórias, que podem só por si contribuir para o aumento da exclusão social em determinadas faixas da população.