sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Tema II - Globalização, Comunicação e Identidades: Paradoxos de discursos identitários nas sociedades multiculturais



Em resposta a este desafio, o primeiro pensamento que me ocorreu, está relacionado com os ajustamentos necessários, de alguém que muda de um determinado contexto cultural para outro, que por norma se reflectem na re-criação de hábitos que dêem alguma sensação de segurança e estabilidade ao recém-chegado. Podendo isto, por exemplo, traduzir-se na escolha da primeira residência, junto de pessoas oriundas da mesma comunidade, ou no recorrer as redes de apoio informais de imigrantes, já pré-existentes. Em suma, existe um conjunto de opções e de procedimentos que podemos considerar comuns, à generalidade dos processos migratórios, que impliquem um adaptação a um novo contexto cultural, para que os imigrantes possam gradualmente construir a sua integração social.
Centrando estes conceitos nas migrações dos nacionais portugueses, estes processos de adaptação tiveram obrigatoriamente de existir, no entanto, importa mencionar a questão da língua portuguesa e da cultura portuguesa, que se encontra espalhada no mundo, e que vai ter consequência no processo de integração. Por este motivo, também, se pode explicar a forte presença de comunidades portuguesas em alguns países, em que existe uma grande proximidade história e cultural, tais como por exemplo, o Brasil e Angola. Nestes países, a adaptação, será mais fácil, devido à existência uma matriz cultural que é comum em muito aspectos, o que nos pode levar a concluir, que ser Português nestes países em concreto, será de certa forma semelhante à vivência cultural existente em Portugal.
No entanto, os portugueses, face à abertura que historicamente mostraram em relação às outras culturas, comparativamente, por exemplo aos ingleses que durante a sua presença na china viviam em comunidades fechadas e pouco permeáveis a influências externas, os portugueses, na generalidade das situações optaram um postura mais tolerante, possibilitando a existência de uma miscigenação entre raças e culturas. Este comportamento historicamente identificado, faz-nos concluir que na actualidade, os portugueses tendo uma presença minoritária numa cultura dominante, será uma comunidade permeável aos hábitos e influências culturais do país onde estabeleçam residência. O que nos obriga a concluir, que apesar da proximidade cultural, com alguns países o ser português, fora de Portugal, será necessariamente diferente, uma vez que existirá alguma apropriação de hábitos e práticas culturais, sem no entanto que isso ponha em causa, traços fundamentais da matriz cultural portuguesa.
Com o objectivo de procurar caracterizar essa mesma matriz, faço referência ao estudo ”Estereótipos sociais e assimetria simbólica: três estudos com jovens angolanos e portugueses”, que demonstra numa das suas tabelas finais que os traços considerados estereotípicos dos portugueses, são os seguintes:

Tabela 8.
Traços típicos dos portugueses
+/-
Participantes portugueses
Trabalhadores
+
5.24
Hospitaleiros
+
5.16
Ambiciosos

5.10
Empreendedores
+
4.76
Racistas
-
4.51
Cínicos
-
4.20*
Egoístas
-
4.18*
Avarentos
-
4.14*
Invejosos
-
4.14*
Antipáticos
-
4.04*
Escala 7= “muito típico dos dos portugueses” *estes valores não diferem significativamente do ponto médio. Significado dos traços: (+) qualidades; (-) defeitos.
Face a estes dados apresentados, que de certa forma, podem servir de referência para, ajudar a identificar o que significa ser português em Portugal, importa agora, tentar perceber em que medida, estes traços culturais, sofrem alguma alteração ou mudança, quando a comunidade nacional é minoritária, face a uma cultura dominante.
Para procurar ilustrar o que significa ser português, em outras regiões do globo, centrei as minhas pesquisas nas entrevistas de investigadores, publicadas no site do observatório da emigração, que nas suas reflexões, estudaram as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, tendo eu escolhido um pais em concreto, devido à forte presença de imigrantes portugueses. Na opinião do investigador, Dr. António Xavier Abreu, do Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades da Universidade de Évora, que viveu na Venezuela, e tendo estudado a emigração portuguesa, na entrevista concedida, refere alguns aspectos importantes da integração dos nossos nacionais, bem como da sua própria experiência pessoal. Tendo eu, seleccionado alguns dos aspectos que considerei mais relevantes, para responder ao desafio lançado. Começo por destacar, o facto de um importante número de portugueses na Venezuela, trabalharem no comercio a retalho, facto que é também explicado pelas redes de apoio informais, que se já tinham estabelecido e pela figura jurídica da carta de chamada, que permitiu a vinda de muitos portugueses. Outro aspecto da entrevista que me pareceu especialmente importante, foi seguinte, expresso neste parágrafo:
“Os portugueses, têm sido muito inteligentes no sentido de saber interpretar as necessidades e a mentalidade do povo que os acolheu, por isso é que a comunidade portuguesa na Venezuela está tão implantada no país, eles sentem-se tão venezuelanos como portugueses. Aliás se alguém fizer um inquérito entre luso-descendentes, estou a falar da segunda ou terceira geração, eles sentem-se tão venezuelanos como portugueses...”
Em suma, julgo que este paragrafo retirado desta entrevista, pode de certa forma, resumir, o que pode significar ser português, nas diferentes partes do mundo, tal hoje, como no passado as nossas comunidades imigrantes, onde a sua presença se fez sentir, teve sempre uma postura de abertura com, as outras culturas, evidenciando uma grande capacidade de se adaptar em diferentes contextos, procurando sempre integrar-se na cultura dominante, ganhando traços/hábitos da cultura local. No entanto, sem por em causa a sua própria matriz cultural, sendo isso expresso na criação, de associações e centros culturais, que mantêm viva a cultura e as origens portuguesas espalhadas por esse mundo fora.

Bibliografia:
Observatório da Imigração
http://www.observatorioemigracao.secomunidades.pt/
http://www.observatorioemigracao.secomunidades.pt/np4/2014.html
Instituto de Investigação Científica Tropical
http://www.iict.pt/
Cabecinhas, Rosa (2004) – “Estereótipos sociais e assimetria simbólica: três estudos com jovens angolanos e portugueses”. Minho, Universidade do Minho.

Outras caracterizações dos/as Portugueses/as

Os portugueses são o povo ou nação com origem em Portugal, na Península Ibérica, no sudoeste da Europa. O português é a sua língua, e o catolicismo a religião nominalmente predominante.

Geneticamente, os dados apontam para uma fraca diferenciação interna dos portugueses, cuja base é essencialmente continental europeia de origem paleolítica. A base genética da população do território português mantém-se aproximadamente a mesma nos últimos quarenta milénios, apesar da presença de inúmeros povos no território português que também contribuíram para o património genético dos seus habitantes.

Culturalmente, as presenças romana, germânica e moura foram muito significativas, tal como foram decisivas a vizinhança e as relações com os restantes países europeus e as relações coloniais com África, o Brasil e o Índico a partir dos sécs. XV e XVI (ver Cultura de Portugal).

No período moderno, os processos migratórios mais relevantes em Portugal deram-se nas últimas três décadas do século XX e até ao presente, com a notável excepção da entrada de grupos ciganos ainda no século XV. Após 1974, o país torna-se um receptor significativo de populações migrantes, quer como resultado directo ou indirecto da descolonização de África, quer como resultado da participação de Portugal na União Europeia. Portugal tem vindo a receber em número crescente populações migrantes oriundas do Brasil, África (com maior relevância das ex-colónias), Ucrânia (e países do Leste Europeu em geral), além de uma multiplicidade demograficamente menos significativa de outras origens, entre as quais avoluma a chinesa.

Portugal foi tradicionalmente uma terra de emigração, desde o período da expansão imperial e colonial, passando, por exemplo, pela emigração económica para o Brasil no século XIX e pela emigração económica, a partir de 1960, para alguns países da Europa Ocidental. Além dos cerca de dez milhões de portugueses residentes em Portugal, estima-se existirem cerca de cinco milhões mais espalhados pelo mundo (incluindo os luso-descendentes recentes) num total de cerca de quinze milhões de portugueses.

Os portugueses são uma população sul europeia, predominantemente oeste-mediterrânica e atlântico europeia. Foram muitos os processos migratórios que contribuíram para a formação do povo português, mas o grande contributo parece ser o mais antigo, ou seja, a população portuguesa, tal como as restantes populações ibéricas e algumas das outras populações da Europa Ocidental (particularmente costeira ou insular), são maioritariamente resultantes de processos de povoamento paleolíticos, aquando da chegada e povoamento da Europa por humanos modernos (progressivamente substituindo as populações de Neandertais, que viriam a extinguir-se precisamente no oeste e sul da Ibéria). De facto, cerca de 60%, em média, das linhagens genéticas em Portugal apresentam marcadores que as caracterizam como de origem paleolítica, nomeadamente o Haplogrupo R1b (Y-cromossomático)[2] e o Haplogrupo H (ADN mitocondrial).[3][4]

Desenvolvimentos recentes das metodologias para definição das estruturas populacionais levaram a um estudo de 2006[5] que concluiu verificar-se uma clara e consistente divisão entre grupos populacionais sul e norte europeus. Um estudo adicional de 2007 posiciona as populações ibéricas algo afastadas de outros grupos continentais, incluindo outros grupos sul-europeus, dando fundamento à hipótese que a Península Ibérica alberga as populações com a origem mais antiga de toda a Europa. Neste estudo, a mais importante diferenciação genética europeia atravessa o continente de norte para sudeste, acompanhada de um outro eixo de diferenciação este-oeste (diferenciando o sul do norte), ao mesmo tempo que se verificou, apesar destas linhas de demarcação relativa, a homogeneidade e proximidade genética de todas as populações europeias.[6]

Fonte: Wikipédia

O que é ser homem português e mulher portuguesa?

Karin Wall apresenta hoje, no ICS, em Lisboa, resultado de estudo.
"A mulher está sempre mais sobrecarregada. Não vamos dizer o contrário. Se me perguntar se eu passo a ferro, eu vou-lhe dizer que não. Mas se tiver que passar a ferro, passo. Não tenho problemas com isso. Ajudo. Há um apoio, digamos que é uma pequena muleta." (António)
António é um homem comum. Não se importa de realizar qualquer das tarefas domésticas mas, para ele, como para a maioria dos homens, a expressão certa a utilizar é "ajudar em casa". A casa (ainda) é da responsabilidade das mulheres, apesar de haver uma evolução inegável no que toca a comportamentos e valores dos homens nos últimos 30 anos - esta parece ser a principal conclusão do trabalho O Lugar dos Homens na Família em Portugal, investigação liderada por Karin Wall, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, e que hoje vai ser apresentada num seminário com o mesmo nome no ICS, em Lisboa.
Os investigadores sublinham "a consciência que todos o homens revelam possuir acerca da mudança nos papéis e identidades masculinas". Mas os homens também sabem que essa mudança é impulsionada pelas mulheres, cuja entrada no mundo do trabalho é um dado inquestionável e com efeitos na vida conjugal (alterando as relações de poder) e na vida familiar e doméstica (a divisão das tarefas é, mais do que uma vontade, uma necessidade).
"Ainda sinto que há umas coisinhas que devem ser elas a fazer, por exemplo, tratar dos miúdos. Eu faço tudo mas sinto que é o papel dela. Não é bem machismo, é porque eu preciso de trabalhar, até por razões familiares, para ganhar mais, não é? Sinto que ela tem que tomar conta, senão não consigo trabalhar. Acho que isto tem mais a ver com o aspecto profissional do que propriamente com discriminação." (Francisco)

Fonte: http://www.dn.pt/inicio/interior.aspx?content_id=985303